28 de janeiro de 2013

Malu de bicicleta



"A mulher quando quer tem força para arriscar, atirar-se, simulando que é frágil e insegura (...). Sei, mulheres sempre jogam com quatro lances de vantagem, pensam quilômetros à frente, sabem a altura da maré do outro mar, sabem quando o vento vai soprar".

Alice



"O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que  devo tomar para sair daqui?
Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o Gato.
Não me importo muito para onde... retrucou Alice.
Então não importa o caminho que você escolha, disse o Gato."

23 de janeiro de 2013

A vida





A vida é como comer chocolate. É boa, mas volta e meia ela derrete nas mãos e escorre por entre os dedos, melada, pegajosa. Com uma fidelidade canina, se nega a desgrudar de si mesma. Quando tarde percebo é chocolate demais, é vida demais. Estou embebido em vida, me afogando em vida. Muitas felicidades que não são minhas, amores que não me apetecem, sorrisos alheios que não me pertencem. Por um esforço me salvo: paro um momento, perco mais um pouco do brilho dos olhos, a escuridão cresce dentro de mim. Respiro fundo e continuo. Quando eu era criança, chocolate era um ritual. Uma tortuguita: primeiro a cabeça, depois as patas. Hoje mal olho a embalagem. Como, apenas. Só pra ver se consigo tapar o buraco de dentro do peito. Nesse intento, como em tantos outros, falho miseravelmente. Me nego a aprender que uma coisa não substitui a outra, uma pessoa não substitui a outra. No fim apenas mastigo ultrajado e sem prazer. Se a vida for sempre do mesmo sabor, enjoa. Cafés, álcoois, cigarros, prostitutas: lírios do meu jardim de pedras. Há muito tempo perdi a necessidade de entender tudo, de ter tudo sob minha vigília. Perder o controle. Sentir-se mortal é sentir-se realmente vivo. Vida comedida, bem comportada, purista, sifilista: escolho é a morte. Escolho mil vezes a morte.

[AD]






18 de janeiro de 2013

Manoel de Barros



























Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas

mais que a dos mísseis.

Tenho em mim

esse atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância

de ser feliz por isso.

Meu quintal

é maior do que o mundo.

15 de janeiro de 2013

A Inevitável música de hoje



Muito pra mim é nada
Tudo pra mim não basta
Eu quero cada gesto
Cada palavra
Cada segundo da sua atenção

Faça isso por mim
Leve a dor pra longe daqui
Estou cansada de ouvir que eu só sei amar errado
Estou cansada de me dividir
No que é certo no amor

Quem é que vai dizer o que falar? Calar? Querer?
Eu quero absurdos
Quero amor sem fim
Quero te dizer que
Eu só sei amar assim...

[Eu só sei amar assim - Herbert Vianna]

Dádivas




Se você tem casa, se escuta, se vê ou se fala

Não sabe, mas, já enriqueceu, perceba sua dádiva

E dê glórias a Deus

Tem coisas que temos que começar a perceber...

14 de janeiro de 2013

EMILY DICKINSON




Banir a mim de mim mesma,
Tivera eu esse dom!
Inexpugnável fosse a minha fortaleza,
Ante toda audácia.

Uma vez, porém,, que eu mesma me assalto,
Como terei paz
A não se sujeitando
A consciência?

E desde que somos monarcas um para o outro,
Como poderei alcançá-lo
A não ser abdicando
De mim mesma?

EMILY DICKINSON


Millôr


"Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa

 tristezinha de papel fino."

Millôr Fernandes

13 de janeiro de 2013

Amemos burramente



“É um pouco aflitivo pensar nisso, e imaginar que, acima dos gestos e das palavras, o sentimento talvez valha alguma coisa; e que a ternura e o bem-querer devem ter um instinto certo e tocar naquelas zonas indefiníveis da alma em que nem os analistas conseguem explicar nada. Ora, pois; mesmo às cegas, burramente, amemos!”

 Rubem Braga “Amemos burramente”  Um cartão de Paris

Via: Ellie 

11 de janeiro de 2013

ESQUECIDO, MAS FELIZ



Arte de Cy Twombly

Eu posso esquecer a receita do minestrone da avó.

Eu posso esquecer a loja em que comprei a calça preta favorita.

Eu posso esquecer o restaurante que escolhemos para passar a virada do ano e o coquetel flamejante que bebemos, desculpa, fumamos (era a nossa piada).

Eu posso esquecer o autor do verso “nunca me perdi de vista: detestei-me, adorei-me, depois envelhecemos juntos”.

Eu posso esquecer o esconderijo dos óculos de sol.

Eu posso esquecer que toalha de crochê tem um lado certo.

Eu posso esquecer de desligar o alarme do celular, agendado na manhã anterior.

Eu posso esquecer que o carnê do carro vence no dia 7.

Eu posso esquecer a melhor marca de azeite.

Eu posso esquecer o diretor do filme em que um casal está perdido em Tóquio.

Eu posso esquecer os aniversários dos sobrinhos.

Eu posso esquecer que você odeia aspargos, mas gosta de palmito (o inverso de mim).

Eu posso esquecer de deixar a luz acesa no corredor, já que tem medo de atravessá-lo durante a madrugada.

Eu posso esquecer minha mania de enfiar os chinelos debaixo da cama e procurar o par pela casa inteira.

Eu posso esquecer qual é a rua do sapateiro para salvar a sola dos meus sapatos.

Eu posso esquecer o que significa tramela.

Eu posso esquecer as diferenças entre o jasmineiro e o jacarandá.

Eu posso esquecer se desliguei a cafeteira ou fechei a porta.

Eu posso esquecer o nome de nossos vizinhos.

Eu posso esquecer de temperar o bife.

Eu posso esquecer a capital de El Salvador.

Eu posso esquecer de colocar protetor ao jogar futebol.

Eu posso esquecer daquele perfume de figo que você usa, adquirido na Itália.

Eu posso esquecer de levar meus casacos à lavanderia.

Eu posso esquecer de responder e-mails de pedidos de entrevista.

Eu posso esquecer de fazer a cópia da chave da correspondência.

Eu posso esquecer da revisão do carro a cada 10 mil quilômetros.

Eu posso esquecer a lista dos anjos que decorei na infância ou como se chama a cobra que morde o rabo.

Eu posso esquecer de ajeitar a unha do pé direito, que dói ao caminhar muito.

Eu posso esquecer as exceções da crase.


Não morro de inveja de quem lembra de tudo, e esqueceu de amar.

Tenho amor, não tenho memória.

Posso esquecer tudo, menos de você que me acompanha desde sempre. Você me lembra do que vivo esquecendo.

Carpinejar

Vem!?



Amor, eu vi a lista 
na porta da geladeira
Fui ao mercado Boa Vista
aquele na rua da feira
Além do que você escreveu
fiz questão de acrescentar
Lembra daquele convite meu?
Comprei as coisas pra irmos acampar
Sei que as coisas estão complicadas
e seria fuga, largar tudo assim
Mas, amor, você não ri mais com minhas piadas
e eu temo que os outros te tirem de mim
Se estiver disposta a passar o final de semana comigo
pega o elevador e vai pra garagem
Estou esperando, e ah sua demora é um castigo
Eu sei que sou bobo, mas você é minha melhor bobagem.

Anjo.

Nota:
Os dias estão complicados
Os medos exacerbados,
Mas deixe de bobagem,
Desfaça a bagagem.
Lá fora faz um enorme frio
Vem para o silêncio vazio
Do quarto cinzento
Na mansidão do apartamento
Escuta a nossa solidão
o som do meu coração
É tudo paz onde ninguém nos alcança
Te aquieta e eu lhe faço uma dança.
Ninguém tira o que é teu amor,
E só de pensar me dá pavor.
Deixa disto, por favor.

Idades




Ter vinte e poucos anos não quer dizer nada. Trinta. Quarenta. Quinze. Vinte. Noventa. O que importa, no fundo, é quem você é quando está sozinho. Como você é quando está acompanhado. O que sobra quando a luz apaga. O que resta quando o sol acorda.





_Clarissa Corrêa.  

9 de janeiro de 2013

Corações




“Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e fazer feliz por inteiro. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.”

— Carlos Drummond de Andrade

“Ser o senhor e ser a presa: é um mistério, a maior beleza…

Amor é dom da natureza…

Amar é laço que não escraviza.”

Ame!




‎'Através do Amor, pedaços de cobre transformam-se em ouro.



Através do Amor, os espinhos se tornam rosas,



Através do Amor, o Demônio se torna anjo



Através do Amor, ferroes são como mel,



Através do Amor, os mortos ressuscitam...'

7 de janeiro de 2013

Me ame...

Meu coração é livre, mesmo amando tanto. Tenho um ritmo que me complica. Uma vontade que não passa. Uma palavra que nunca dorme. Quer um bom desafio? Experimente gostar de mim. Não sou fácil. Não coleciono inimigos. Quase nunca estou pra ninguém. Mudo de humor conforme a lua. Me irrito fácil. Me desinteresso à toa. Tenho o desassossego dentro da bolsa e um par de asas que nunca deixo.