29 de março de 2012

Ria..



Rir não é uma forma de desprezar a vida, e sim de homenageá-la. Mas atenção pra sutileza: isso não significa passar os dias feito uma boba alegre, dando bom dia pra poste. Trata-se de rir por dentro. De achar graça nas coisas. Mesmo as que não dão muito certo. A essa altura você já deve ter descoberto que nem tudo dá certo.

Martha Medeiros

É preciso


É preciso ser duro
como a pedra que parte
como a parte da pedra
que penetra a parede
e a parte
Como a rede que não vaza
como o vaso que não quebra
como a pedra que fende
o paredão da casa
E é preciso ser fraco
é preciso ter siso
e simulacro. É preciso
todos os dias vencer
os deuses pigmeus/golias
É preciso ter cara
e ter coragem


É cada vez mais raro
quem assim reage

É preciso ser duro
como o murro
como o muro
e é preciso ser doce
como se anteparo
de vidro
o muro fosse
É cada vez mais raro
ser duro e doce
cada vez mais torpe
ser apenas duro
cada vez mais nulo
ser apenas doce
cada vez mais duro
ser o muro e a nuvem
como se um só fossem.

Ivo Barroso

26 de março de 2012

Cometa bobagens...


‎"Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado. Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público. Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio (...) Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer." 

Carpinejar 

19 de março de 2012

Volta!!!


"Tem coisa que não volta, por mais que a gente queira. Você pode até tentar voltar o disco, repetir a música, insistir na letra, cantar o mesmo refrão por mil e um minutos, fechar os olhos. Tem sentimento que não volta. Mesmo que você se esforce, recorde, tente voltar a página, refrescar o coração. Alguns sentimentos são bem pontuais: chegam, esperam pra ver se devem ficar e decidem partir ou continuar."
Tati Bernardi

Escolha...


Eu me perguntei porque quando mais precisamos de nós mesmos, geralmente mais nos faltamos. Que estranha escolha é essa, que faz a gente alimentar os abismos, quando mais precisa valorizar as próprias asas.
Ana Jácomo 

15 de março de 2012

Saudade mata ?


"Em alguma outra vida, devemos ter feito algo muito grave para sentirmos tanta saudade…"
Miguel Falabella

10 de março de 2012

Injustiça



— Não confie na frase de sua avó, de sua mãe, de sua irmã de que um dia encontrará um homem que você merece.

Não existe justiça no amor.

O amor não é censo, não é matemática, não é senso de medida, não é socialismo.

É o mais completo desequilíbrio. Ama-se logo quem a gente odiava, quem a gente provocava, quem a gente debochava. Exatamente o nosso avesso, o nosso contrário, a nossa negação.

O amor não é democrático, não é optar e gostar, não é promoção, não é prêmio de bom comportamento.

O melhor para você é o pior. Aquele que você escolhe infelizmente não tem química, não dura nem uma hora. O pior para você é o melhor. Aquele de quem você procura distância é que se aproxima e não larga sua boca.

Amor é engolir de volta os conselhos dados às amigas.

É viver em crise: ou por não merecer a companhia ou por não se merecer.

Amor é ironia. Largará tudo — profissão, cidade, família — e não será suficiente. Aceitará tudo — filhos problemáticos, horários quebrados, ex histérica — e não será suficiente.

Não se apaixonará pela pessoa ideal, mas por aquela que não conseguirá se separar. A convivência é apenas o fracasso da despedida. O beijo é apenas a incompetência do aceno.

Amar talvez seja surdez, um dos dois não foi embora, só isso; ele não ouviu o fora e ficou parado, besta, ouvindo seus olhos.

Amor é contravenção. Buscará um terrorista somente para você. Pedirá exclusividade, vida secreta, pacto de sangue, esconderijo no quarto. Apagará o mundo dele, terá inveja de suas velhas amizades, de suas novas amizades, cerceará o sujeito com perguntas, ameaçará o sujeito com gentilezas, reclamará por mais espaço quando ele já loteou o invisível.

Ninguém que ama percebe que exige demais; afirmará que ainda é pouco, afirmará que a cobrança é necessária. Deseja-se desculpa a qualquer momento, perdão a qualquer ruído.

Amar não tem igualdade, é populismo, é assistencialismo, é querer ser beneficiado acima de todos, é ser corrompido pela predileção, corroído pelo favoritismo. É não fazer outra coisa senão esperar algum mimo, algum abraço, algum sentido.

Amor não tem saída: reclama-se da rotina ou quando ele está diferente. É censura (Por que você falou aquilo?), é ditadura (Você não devia ter feito aquilo!). É discutir a noite inteira para corrigir uma palavra áspera, discutir metade da manhã até estacionar o silêncio.

Amor é uma injustiça, minha filha. Uma monstruosidade.

Você mentirá várias vezes que nunca amará ele de novo e sempre amará, absolutamente porque não tem nenhum controle sobre o amor

- Fabrício Carpinejar.

7 de março de 2012

Moments


O momento certo não existe.
Desperdiça-se uma palavra,
deita-se fora um gesto,
perde-se a oportunidade.
Imagens que ficam apenas na imaginação,
instantes que ficam por revelar,
na espera da certeza do momento...

4 de março de 2012

A inevitável música de hoje - Por aí


lembra de quando amanhecemos com a luz acesa
nos papos mais estranhos sonhando de verdade
salvar a humanidade ao redor da mesa

sábias frases, ilusões sem fim
ying, jung, i ching e outras cabalas
procurando deus entre as folhagens do jardim

que tolos fomos nós, que bom que foi assim 
que achamos um lugar pra ter razão
distantes de quem pensa que o melhor da vida
é uma estrada estreita e feita de cobiça
que nunca vai passar por aqui

lembra de longas primaveras de andar pela cidade
saudando novas eras sonhando com certeza
salvar a natureza ao final da tarde

cegas crenças, lixo oriental
ying, jung, i ching e outras balelas
procurando deus entre as macegas do quintal

seremos sempre assim, sempre que precisar
seremos sempre quem teve coragem
de errar pelo caminho e de encontrar saída
no céu do labirinto que é pensar na vida
e que sempre vai passar por aí

auras, carmas, drogas siderais
ying, jung, i ching e outras viagens
procurando deus entre o delírio dos mortais

seremos sempre assim, sempre que precisar
seremos sempre quem teve coragem
de errar pelo caminho e de encontar saída
no céu do labirinto que é pensar na vida
e que sempre vai passar, e sempre vai passar 
sempre vai passar por aí...

[Por aí - Affonsinho]