23 de fevereiro de 2013

NÃO SE ENVOLVA COM AMIGO





Minha filha, não se envolva com amigo.


Mais difícil do que iniciar o romance é terminá-lo.



Não há como encerrar sem trauma, sem ressentimento, sem a crueldade da palavra exata.



Ficará com medo de perder a amizade, e perderá. Não terá coragem de ser sincera como antes, e queimará o céu da boca.



O desejo é uma embriaguez violentada pela ressaca. O desejo é uma miragem alcóolica do corpo. Acordamos da bebedeira das palavras ainda mais carentes.



Não se envolva com amigo. O antigo confidente terminará sendo seu segredo (e agora, para quem contar?).



Acabará o amor, mas não a amizade.



Ele não dará nenhum motivo para o fim da relação. Não vai traí-la. Não vai provocar ciúme. Não vai cometer indelicadezas e grosserias.



O homem certo é o errado. O homem ideal é imprestável.



Ele não ajudará na despedida, fugirá das discussões de relacionamento. Conhece o suficiente para agradá-la todo momento com cafunés e presentes.



O amigo é insuportavelmente bom. Terrivelmente bom. Sua mãe recomenda. Seu pai recomenda. Seus amigos recomendam. A unanimidade não nos permite escolher.



Não se envolva com amigo.



Se enfrentou indecisão para beijá-lo no início, o verdadeiro dilema é parar de beijá-lo. Como chegar e falar:



— A brincadeira acabou, vamos retornar ao que era antes?



Não há como regressar, a amizade não é líquida como o amor. Não é gelo que volta a ser água que volta a ser chuva que volta a ser rio.



Sempre o amigo se apaixona por você, e você não se apaixona por ele. É a lei natural da desigualdade.



Amigo não gera nem raiva, mas pena. Não exala a sensualidade da teimosia, o suor maravilhoso da discordância.



Envolver-se com amigo é a maior solidão: quando a solidão vira desterro.



Bancará a ruptura sozinha. Ele não facilitará o testamento. Será a ogra, a monstra, a interesseira.



Ele dirá:



— Mas nada aconteceu, por quê? O que eu fiz?



Nada aconteceu, ele não fez nada, o fim é exatamente a monotonia do bem.



Um amigo, minha filha, tem menos chances de surpreender. E desconcertar.



Tem menos possibilidade de incomodar, de ser inesquecível e desafiar a compreensão.



O amigo é a segurança, o conforto, o pique, a trégua do pega-pega.



O amigo é a previsibilidade da justiça.

E o amor, minha filha, é injusto.


[CaRpInEjaR]

4 comentários:

Suellen disse...

Amei o texto !

Maxcynee Leonardo Martins disse...

Nem preciso dizer muito...
O blog continua totalmente TRX... rsrs
E esse texto é perfeito!
Namorar um amigo pode ser aceitável, mas um melhor amigo é exatamente oq diz o texto... <3

marta disse...

Perfeitooo....

marta disse...

Perfeitooo