Do que você tem medo? Eu tenho medo de carros, filmes de terror e corações partidos. Sobrevivemos com nossos medos e, ao longo das topadas da vida, aprendemos a lidar com eles ou, em alguns casos, fugir deles. Alguns são simples. Meu medo de carros eu supero pela cautela: atravesso na faixa ou no sinal vermelho. E não importa quanto tempo eu demore para atravessar a rua, sou vou fazê-lo quando não tiver nenhum carro a vista. Com os filmes talvez seja ainda mais fácil: não assistir. Não interessa se é de dia e se haverá muitas pessoas ao meu redor. Tenho medo, logo, não assisto. Mas o que fazer com aqueles mais complexos. Aqueles dos quais simplesmente não existem orientações de segurança para serem seguidas ou qualquer tipo de procedimento para evitá-lo? O que fazer com o medo de perder as pessoas que amamos ou de entregar nossos corações as situações gritantemente perigosas? Qual o procedimento padrão para o frio na barriga antes do “não” e pra dor no peito depois do “era tudo mentira” ou do “Desculpa, não deu certo”? Desses a gente não foge, muito menos se esconde. Eles ficam do nosso lado, povoando o lugar na mente que deveria ser da prova de Marketing na segunda-feira ou daquela lembrança boa das gargalhadas com as amigas no domingo. Eles latejam como ferida recém-aberta e resquício de enxaqueca. Atravessar na faixa eu sei bem, e curar corações partidos, como faz?
[Mirella Pessoa]
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